A introdução alimentar das crianças pode ser um desafio; veja dicas para superar as dificuldades e recusas em comer, que são comuns nessa fase
Por Fernanda Maranha
A alimentação infantil sempre é uma questão que aflige muitos pais. Até os seis meses de idade, o bebê se alimenta apenas de leite materno – ou artificial, quando indicado – mas a partir dessa idade, já é recomendado iniciar a introdução alimentar que, como o próprio nome indica, consiste na inserção gradual de alimentos no cardápio do bebê.
“A introdução alimentar deve se iniciar com alimentos mais fáceis para digestão e mastigação, já que neste período o bebê não tem a dentição completa”, explica Fernanda Levino, nutricionista infantil. Nesta fase – especialmente até o neném completar um ano de idade – os alimentos são apenas complementares, já que o aleitamento ainda é a principal fonte de sustento e nutrientes dos pequenos.
Lilian Wiczneski, de Curitiba, é mãe de duas crianças: Helena, de três anos, e Felipe, de um.
Quando sua filha mais velha completou seis meses, começou a introdução alimentar. O método escolhido a princípio por Lilian foi o Baby Led Weaning, ou BLW, conhecido por deixar que a criança interaja com alimento sozinho, em vez de oferecer as tradicionais papinhas e alimentos amassados.
No início, Helena não aceitou muito bem os alimentos, e não se interessava em experimentá-los. Apesar de ser comum essa interação sem de fato levar à boca as frutas e legumes ofertados em um primeiro momento, Lilian, com o auxílio da nutricionista que acompanhou de perto a alimentação dos dois filhos, decidiu passar a oferecer também os alimentos à pequena, levando à boca dela. Ainda assim foi um processo difícil, explica Lilian: “Ela não aceitava abrir a boca, se recusava mesmo. De seis meses a um ano ela não provava absolutamente nada”.
De acordo com Fernanda, a recusa dos alimentos é bastante comum, pois trata-se de um conceito novo sendo inserido na vida do bebê. Por isso, durante os primeiros meses, deve-se manter o aleitamento materno em livre demanda. Foi assim que Helena manteve-se ganhando peso e se desenvolvendo normalmente, mesmo sem aceitar os alimentos.
O acompanhamento pediátrico para verificar se a evolução do bebê está seguindo como o previsto, mesmo sem aceitar os alimentos normalmente, é essencial. Além disso, Lilian contou também com o acompanhamento nutricional, para encontrar novas estratégias ao oferecer os alimentos para a filha. Para ela, ter a ajuda de especialistas foi fundamental também para que conseguisse lidar com suas próprias expectativas e frustrações:
“O ideal é oferecer o mesmo alimento até 10 vezes para saber se a criança realmente não gosta”, diz a especialista sobre a recomendação para quando o filho não aceita alimentos específicos. É importante também pensar na individualidade da criança.
Muitos pais preferem oferecer papinhas e outros alimentos industrializados, especialmente quando o bebê não aceita os alimentos naturais de primeira, e também pela praticidade de não precisar cozinhar.
Lilian confessa que também pensou nisso, mas foi confortada pela nutricionista que a acompanhava durante a introdução alimentar da primeira filha. “Se ela comer só isso, você vai deixar de prezar pela qualidade da alimentação dela”, explicou.
Fernanda esclarece porque as papinhas industrializadas não são as mais recomendadas: “Por serem industrializadas, têm conservantes e não apresentam a mesma quantidade dos nutrientes benéficos para a criança, em comparação com a alimentação mais natural”.
Uma das soluções encontradas por Lilian para que sua filha passasse a comer mais foi colocá-la para acompanhar o preparo dos alimentos. “Ela gostava muito de panquequinha de banana, mas não comia a fruta in natura. Então sempre que eu ia fazer, eu a chamava e fazia a panqueca com ela olhando. Um dia, durante o processo de preparo, ela quis experimentar a banana. Foi assim que ela provou e foi a primeira vez que ela comeu a fruta”.
Até hoje, aos 4 anos, Helena ainda é seletiva com os alimentos que aceita, como explica sua mãe: “Ela é bem restritiva com frutas. Ela gosta apenas de banana, maçã e mexerica. Só às vezes ela topa provar alguma outra coisa. E a gente não força”.
Já com o filho mais novo, Felipe, Lilian passou por uma experiência completamente diferente: “Ele teve uma aceitação muito grande dos alimentos desde o primeiro momento”.
Por outro lado, com a experiência do segundo filho, ela foi capaz de perceber que as crianças têm suas fases durante o processo de introdução alimentar e passou a lidar melhor com a situação. “Atualmente ele está numa fase em que ele aceita só carne e, em vez de eu me desesperar, como foi com a Helena, eu consigo relaxar, pensando que são fases”, conta.
“Da mesma forma que eu às vezes tenho mais fome, tenho vontade de comer alguma coisa, ou não tenho, eles também são seres humanos com as suas particularidades, com seus desejos”, conta Lilian sobre seus aprendizados diários ao lidar com a alimentação dos dois filhos.