Se ontem as “indiretas” restringiam-se às “comadres”penduradas nas janelas das antigas vilas, a popularização das redes tornou-as exercício cotidiano de muita gente, que se esquece da reputação formada justamente com aqueles que observam tudo silenciosamente.
Eduardo Zugaib
Como observador do comportamento humano, bem como estudioso da comunicação como competência e ferramenta de crescimento pessoal e profissional, não dá pra ficar alheio à forma como diversas pessoas manifestam frustrações e desgostos nas redes sociais, em especial no Facebook. As famosas mensagens cifradas, incompletas ou subentendidas, as populares ‘indiretas’.
A reflexão a ser feita é uma só: até onde essas pessoas realmente conseguem atingir seus objetivos secretos usando essas afrontas travestidas, tornando públicas as frustrações destinadas apenas a uma ou algumas pessoas?
Vamos a um breve e simples cálculo: se eu tenho em minha rede 2.500 pessoas, ao lançar uma ‘indireta’ para atingir alguém em específico, eu esbarro minha falta de maturidade em outras 2.499, com uma chance máxima de 0,04% de acerto. Menos que a metade de 1% de eficiência. Se o objetivo desse comportamento é o de ‘lavar a alma’, o resultado é parecido como tentar lavar um lençol branco usando água suja.
A razão – ou falta dela – que faz com que muitos insistam em acelerar nessa curva escorregadia da comunicação, encontra-se entre dois extremos: o do desejo de se manifestar, de dizer o que se pensa sobre pessoas ou fatos e, o do medo de se expor e de piorar ainda mais as coisas. Um protesto de mentirinha para exibir, com a boca espumando, aos colegas mais próximos, enquanto o lençol continua sendo lavado com a água suja. Nota zero em assertividade, em objetividade e na efetividade da comunicação, habilidades que, com dedicação, treino e sensibilidade, são sempre possíveis de se melhorar, desde que a atitude pessoal positiva aponte para elas.
Já no item ‘imaturidade’, uma característica comportamental mais complexa de se desenvolver, a nota é 10, já que é característica completamente formada por atitudes. Como sabemos a repetição das atitudes ajudam a formar – ou a transparecer – o seu caráter, enquanto pessoa e enquanto profissional.
Se ontem as ‘indiretas’ restringiam-se às ‘comadres’ penduradas nas janelas das antigas vilas, a popularização das redes tornou-as exercício cotidiano de muita gente, que se esquece da reputação formada justamente com aqueles que observam a tudo silenciosamente. Entre eles estão profissionais de Recursos Humanos, diretores de empresas e outros formadores de opinião que não pensarão duas vezes em marcar um “X” na testa daqueles que, incapazes de conviver produtiva e criativamente em equipe, insistem na construção de uma imagem profissional que tem como base uma comunicação caótica, egoísta, ruidosa, maledicente e desagregadora.
Publicar indiretas nas timelines das redes é como xingar insistentemente o juiz estando no meio da torcida, em meio ao barulho das cornetas e dos gritos de guerra em um estádio de futebol. O ‘destinatário’ não vai ouvir. Ainda que ouça, fingirá que não é com ele.
Já quem está à sua volta – e não serão poucos – terá material crítico suficiente para avaliá-lo como alguém agradável, educado, confiável, estável, assertivo… ou NÃO! Tente avaliar até que ponto o ‘indiretocídio’ pode estar matando a sua carreira, especialmente se ela estiver no início. A construção da sua imagem pessoal e profissional pode estar sofrendo sérios arranhões, invisíveis para você, mas irreversíveis na avaliação do mercado de trabalho.
Eduardo Zugaib
www.eduardozugaib.com.br
Publicitário, faz palestras e treinamentos corporativos que estimulam a criatividade e a motivação.