
Há algo novo — e urgente — no comportamento das crianças e adolescentes brasileiros: eles estão cansados. Não apenas fisicamente, mas emocionalmente esgotados.
Por Clarice Velloso
Professores relatam alunos sem foco, irritadiços, exaustos logo no início das aulas. Pais percebem respostas impacientes, dificuldades de sono e crises de ansiedade cada vez mais frequentes. Psicólogos confirmam: estamos diante de uma infância sobrecarregada por estímulos que ultrapassam a capacidade emocional da geração mais jovem.
A culpa não é de um único fator. É da soma. Telas que nunca desligam. Algoritmos que aceleram o pensamento e sequestram a atenção. Atividades demais, tempo de descanso de menos. Pressões escolares crescentes, competitividade, notificações que chamam o tempo todo. As crianças estão vivendo um ritmo que os adultos também não suportam — mas com ainda menos maturidade emocional para processar tanta informação.
Dados recentes da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que o uso excessivo de telas aumentou em todas as faixas etárias, especialmente entre 8 e 14 anos. Estudos internacionais apontam a mesma direção: sono reduzido, irritabilidade, pior desempenho escolar e aumento expressivo de sintomas de ansiedade. O mundo digital, embora cheio de possibilidades, vem moldando um cérebro infantil que ainda não tem defesas suficientes para lidar com tamanha intensidade.
Nesse cenário, a escola se torna um espaço de respiro — ou de mais pressão. Por isso, muitas instituições têm discutido novas formas de reorganizar o tempo. Aulas mais distribuídas, intervalos mais longos, ambientes que privilegiam convivência e movimento, e projetos que ampliam a consciência emocional dos alunos. Quando a escola entende que aprendizagem depende de equilíbrio, ela se torna parte da solução.
Mas essa reorganização só funciona quando a família caminha junto. De nada adianta a escola oferecer um ambiente mais humano se, em casa, as crianças passam horas diante de telas, dormem pouco ou vivem em rotinas que não favorecem vínculos afetivos. A parceria família–escola nunca foi tão decisiva. Pais atentos ao tempo de tela, ao descanso e à qualidade das conversas conseguem criar bases emocionais mais sólidas — e isso reflete diretamente no comportamento escolar.
A geração que pede silêncio está, na verdade, pedindo algo ainda maior: uma pausa para respirar. Menos barulho mental. Menos cobrança. Menos aceleração. Um tempo a mais para crescer com calma, entender quem são, organizar sentimentos e desenvolver competências que não aparecem em boletins, mas constroem vidas inteiras.Se adultos e instituições caminharem juntos, 2026 pode ser o ano em que aprenderemos a diminuir o ritmo — para que nossas crianças possam enfim recuperar a infância que lhes pertence.



